Encantado como um vira-latas, elegante como uma rosa.
- Leo Viramundo
- 19 de mai. de 2017
- 2 min de leitura
Eu ando pela noite. Olho à volta como quem deseja ver algo, mas não consegue porque algo falta. Muita gente na rua. Apesar disso, não havia ninguém. Ridiculamente, esses rostos, como ausências concretas, exibem-se entre plumas coloridas, frente a um mundo cego, crendo que são vistos e admirados - pois são também cegos. Seus olhares são lânguidos, rasos, vazios...
Lanço-me à caminhada de novo. Todos gritam e querem ser ouvidos, mas são todos surdos. Invisível no mimetismo anônimo da multidão, sou silêncio profundo. Esses fantasmas não me assustam. Deles é o mundo. Meu é o caminhar. Vejo tudo isso como se instintivamente já soubesse em meu âmago que não importa onde eu vá, não é lá o meu lugar.
Sigo só. Qual é a direção? Sigo. E só. Não importa a direção; vivemos numa esfera. O que vai nunca volta, mas o mundo sempre dá voltas. Aos olhos do caminhante, nada escapa. Mesmo quando ainda alguma coisa falta. E tenho meu caminho já traçado, numa rota fascinante rumo à ilha fora do mapa. Como cantor, percorro cada canto. No entanto, a busca atual não espera encontrar qualquer novidade em qualquer ponto; É apenas um rápido treinamento. Pois, se busco aquilo que falta, também ele está vindo ao meu encontro. Minha busca atual é por estar no lugar certo.
Então, sigo andando pela noite. Anônimo, antônimo, silencioso e invisível, desejando ver algo que ainda falta. Desejo esse que não consigo ignorar ou conter, pois esta ausência é tão óbvia que grita cada vez mais alto, chamando o meu nome. Eu ouço e atendo ao seu chamado.
Encantado como um vira-latas, elegante como uma rosa. Sigo minha caminhada por melodias, verso e prosa. Vislumbro no horizonte o encontro tão esperado.
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